"welcome to the new subnormal" é uma obra de media art inaugurada no eMMA 2025 — exposição do Mestrado em Media Arts da Universidade do Minho.
Está em exibição de 18 a 26 de julho de 2025 no gnration, o inventivo hub de Braga, Cidade Criativa da UNESCO para as Media Arts.
A instalação opera no limiar entre o caos do mundo e o fluxo do sutil. No vórtice em que passado, presente e futuro se encontram, o trabalho convida a audiência a um salto para 2077 para nutrir sensibilidades e pensar sobre futuros desejáveis ou não.

Logo da obra "welcome to the new subnormal"
O novo subnormal exige resignação. Prega a obediente adaptação aos cenários de uma crise climática que nunca para de se deteriorar.
A cada grau a mais de aquecimento do planeta, novas engenhocas surgem para tentar dissipar o calor.
A cada nova praga que se instala, sementes resistentes e vacinas inovadoras são sintetizadas para suportar a infestação.
E cada nova tecnologia que emerge cobra um custo oculto de uma sociedade viciada em consumismo e monoculturas.
No mundo novo subnormal, não há outro papel para o ser humano além de mitigar suas próprias crises.
Nós resistimos a esta visão.
Enxergamos um mundo composto pelos campos do caos e do sutil, aparentemente distintos, mas que se comunicam por canais subliminares.
Valorizamos e reconhecemos o ancestral e o pensamento selvagem de que falam Krenak e Viveiros de Castro.
Reconhecemos que as ferramentas clássicas para compreender o mundo já não são suficientes. Talvez nunca tenham sido. É preciso ajustar frequências e ampliar a varredura de ondas sutis e complexas.
Acreditamos que qualquer solução para o planeta passa por considerarmos o mundo natural com suas diversas valências humanas e mais-que-humanas.
Entendemos que especular futuros é um meio para nos apropriarmos do nosso destino comum. Tal e qual o curso de um rio, os trechos navegados já não nos pertencem mais. Mas as bifurcações nos caminhos que vêm adiante, estas permanecem abertas para escolhas conscientes. E podem determinar a chegada a bons portos, os futuros desejáveis.
Nutrir sensibilidades é essencial.
Cuidar de quem cuida.
Cuidar de quem cuida.
Cuidar de quem cuida.
Do alto do posto de observação de Braga, em 18 de julho de 2077
Artefatos 2077
Se você visitou a minha obra "welcome to the new subnormal" na eMMA 2025 — exposição do Mestrado em Media Arts da Universidade do Minho em parceria com o gnration—, pode ter ficado curiosa com as evidências por trás de cada artefato. Aquilo tudo é verdade ou invenção?
Se o bichinho da curiosidade te picou, veja abaixo algumas referências e explore futuros possíveis e nem sempre desejáveis. Longe de buscar apresentar listas exaustivas, veja este conteúdo como um extra para estimular a sua própria pesquisa.

Placa que descreve artefatos do ano 2077, uma experiência de design fiction.
Referências

Placa que descreve artefatos do ano 2077, uma experiência de design fiction.
Referências

Placa que descreve artefatos do ano 2077, uma experiência de design fiction.
Referências

Placa que descreve artefatos do ano 2077, uma experiência de design fiction.
Foto de uma faixa de protesto contra a mina de lítio. "Covas do Barroso, patrimônio agrícola mundial, diz não à mina". Foto: Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso. Utilizada com permissão.
Covas do Barroso
O tema da mina de lítio em Covas do Barroso sempre me chamou a atenção desde que cheguei a Portugal. Em Brasília, por anos colaborei com um grupo que defendia a preservação de uma porção de Cerrado — bioma brasileiro concentrado na região Centro-Oeste do país — contra a expansão imobiliária.
A opção pelo lítio em desfavor da aldeia precisa ser pensada com extrapolações futuras. O que isso significará para a vida na aldeia? E que benefício trará para aquela população, ou para onde mais vai esse benefício?
Pensar em outras formas de nos colocarmos no mundo é também pensar na preservação de mais aldeias ao invés da expansão incontrolável de minas e condomínios.
Foi um gosto contar com o apoio da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, que nos cedeu imagens com permissão para utilização na obra.
Projeto dos Cafés Exóticos IAC

Imagem do flyer de divulgação do projeto Cafés Exóticos IAC. Imagem utilizada com permissão.
Para o desenvolvimento do projeto, contamos com a gentileza e o cérebro da especialista em café Rebecca Nogueira (@cafeumbomcafe), que colabora com o projeto de Cafés Especiais do IAC (@cafesespeciaisiac), o Instituto Agronômico de Campinas.
Fundado em 1887 pelo Imperador D. Pedro II, o Instituto é um órgão público ligado ao governo do estado de São Paulo. Ele atua para assegurar a segurança alimentar da população e a competitividade da indústria. No campo específico do café, o IAC estuda diferentes variedades e espécies que nos permitem ampliar nosso entendimento sobre a planta e suas características.
Na instalação artística, o café é apresentado em um cenário de escassez. Mudar a rota que leva a esse cenário implica a adoção de novos padrões de consumo por parte da sociedade, bem como novas dinâmicas de produção pelo lado da indústria e das relações com pequenos produtores.
Podem ser conversas difíceis, mas pensar sobre essa situação é um convite a uma nova forma de nos colocarmos no mundo. Por essa razão, o tópico café foi integrado à obra artística, presente não somente nos Artefatos 2077, mas também nos depoimentos de Rebecca Nogueira que semeiam outras abordagens sobre a nossa relação com a planta e a bebida.
Além disso, Rebecca nos fez chegar um pacote de um café exótico que cruzou o oceano para integrar a experiência sensorial que complementa a obra.
Uma pequena amostra de um blend de variedades crioulas e selvagens africanas foi servida aos visitantes graças à parceria com a Soul, Alimentação Saudável e do Bem (@soul.dobem). O restaurante e coffee shop localizado no prédio do gnration nos ofereceu a possibilidade de servir o café espresso pelas mãos do barista Thiago. O mundo do café é, sem dúvida, um espaço de generosidade.
A seguir, apresentamos um texto produzido por Rebecca Nogueira que nos ensina um pouco mais sobre o Projeto dos Cafés Exóticos IAC.
"Caros apreciadores e apreciadoras de café,
É possível contar boa parte da história da humanidade moderna através do café. Desde que saiu das florestas tropicais da África, essa planta acompanhou — e acelerou — os grandes movimentos da sociedade. Tornou-se combustível da industrialização, energia líquida para trabalhadores, motor silencioso da produtividade global. E segue, até hoje, sendo a bebida mais consumida no mundo depois da água.
Tamanha potência nos convida a uma pergunta necessária: como pensar essa planta, que se espalhou pelos quatro cantos do planeta, de forma mais consciente? O que ela realmente é, em sua essência, antes de ser moldada para servir aos nossos interesses?
O Projeto dos Cafés Exóticos nasce justamente desse olhar. É um resgate da natureza original do café. Uma busca por entender o que essa planta pode expressar — em sabor, aroma, presença — quando cultivada sem as intervenções que a tornaram mais resistente, mais produtiva, mais rentável... mas também mais distante de sua própria natureza.
Este projeto é fruto do Programa de Cafés Especiais do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), sob coordenação do pesquisador Dr. Gerson Giomo. Desde 2011, o programa se dedica a estudar como a interação entre genética, ambiente e processos de pós-colheita pode revelar a máxima expressão do café — em sua diversidade sensorial, sua autenticidade e sua conexão com o território.
O IAC, fundado em 1887 por Dom Pedro II e berço da cafeicultura mundial, abriga o maior Banco Ativo de Germoplasma de Cafeeiro da América Latina, com mais de 10.000 genótipos, incluindo espécies silvestres, variedades crioulas, híbridos e acessos raros de diversas regiões do mundo.
Este acervo é um verdadeiro jardim de biodiversidade, que guarda não só possibilidades genéticas para o futuro da cafeicultura, mas também memórias vivas da história evolutiva do próprio café.
As amostras que você tem em mãos são frutos dessa pesquisa.
São cafés que desafiam os padrões, expandem os sentidos e nos convidam a refletir sobre uma relação mais cuidadosa — e talvez mais justa — entre humanidade, natureza e cultura.
Com apreço e café,
Rebecca Nogueira
Educadora, especialista em café e colaboradora do Projeto dos Cafés Exóticos IAC"
Educadora, especialista em café e colaboradora do Projeto dos Cafés Exóticos IAC"

Flyer informativo sobre o Projeto dos Cafés Exóticos do IAC. Imagem utilizada com permissão.

Embalagem de uma variedade de café do Projeto dos Cafés Exóticos do IAC. Imagem utilizada com permissão.

Embalagem de uma variedade de café do Projeto dos Cafés Exóticos do IAC. Imagem utilizada com permissão.
Agradecimentos
A jornada que me trouxe até este ponto no mestrado em Media Arts da UMinho foi longa e transcende o meu tempo em Portugal. Muita gente boa me estendeu a mão pelo caminho.
É com este aprendizado acumulado que chego a este momento de entrega de um projeto para o mundo.
Meu muito obrigado a todas as pessoas que me inspiraram e incentivaram a seguir criando.
Universidade do Minho
Prof. Dr. Tiago Martins
Prof. Dr. Pedro Portela
Prof. Dr. Luís Fernandes
Profª. Dra. Susana Gaudêncio
Prof. Dr. João Rosmaninho
Professores e Professoras que fizeram parte da minha jornada no Mestrado em Media Arts
Colegas de Mestrado
Obrigado pelo incentivo, pela criatividade partilhada e pela energia, cuidado e inspiração!
Cidade Criativa das Media Arts
Braga Media Arts
gnration e sua Equipe Técnica
Sandra Muñiz Gómez, Curadora
Márcio FerreiraFrancisco Novais
O mundo do Café
Instituto Agronômico de Campinas (IAC)Pesquisador Dr. Gerson Giomo, coordenador do Programa de Cafés Especiais do IAC
Rebecca Nogueira
Sónia Raposo
Soul, Alimentação Saudável e do Bem
Vanessa Oliveira
Thiago Motta
Covas do Barroso
Francisco
Miguel Ângelo e Cila (Lucília)
e os membros da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB)
Mercado das Flores
Liliana e PatríciaCuidados
Rosa Dias e a equipa de cuidadoras que me permitiram avançar nos estudos
Mentoras da Jornada
Sara Moreira
Um eterno obrigado por Portugal.
Garage Stories
Marta Ordeig
Mar Gimeno Lumbiarres
Saracura, o filme
Leena Manimekalai
LA-BORA!gov
Equipe do podcast Ondas de Inovação
Luana Faria
Marthinha Lauande
Larissa Valverde
Black Technology Mentorship Program
Christopher Lafayette
Bastidores do field recording e o som das usinas eólicas
Luis Lacea
As energias
Luiz Henrique Moreira Santos
Obrigado por me ensinar a cuidar de mim e dos meus, com forças sutis e gentileza.
O campo
Globo Rural
Como muita gente, eu aprendi muito sobre as dinâmicas do campo assistindo a este programa aos domingos pela manhã. Obrigado pelos tenébrios, pelas sempre-vivas e pela inspiração.
Afetos
Rafaela
Você me trouxe para a Cidade Criativa das Media Arts, e aqui eu encontrei muitos lugares para chamar de lar: tantos que a gente conheceu juntos, e também a UMinho e o gnration. Um imenso obrigado, cuore mio.
Dedico este projeto aos meus pais, que me nutriram com criatividade, curiosidade e um olhar sensível sobre o mundo. Que eu seja capaz de continuar evoluindo esse olhar.
Juvelina e Oswaldo (in memoriam)
Saúdo a memória do meu avô Frederico de Oliveira, o Fritz, bombeiro e barista. Nunca convivemos, mas, por meio do café, parece que chego mais perto de você.
Créditos
O projeto audiovisual utiliza vídeos/áudio de uso livre das plataformas Archive.org, Pexels e Pixabay, além do acervo pessoal do autor.
Música: "Capoeira" por Freccero, via Pixabay.
https://pixabay.com/pt/music/otimista-freccero-capoeira-116083
Fluxo da água (arte generativa) baseada no tutorial de PPPANIK.
interactive particle waterfall
Uso do Touchdesigner aprimorado com as orientações do Google Gemini.
Vídeos de Rebecca Nogueira utilizados com permissão.
Vídeos e fotos da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso utilizados com permissão.
Voz de Juvelina Almeida de Oliveira utilizada com permissão.
Efeitos sonoros via soundstripe.com.
Ferramentas
Touchdesigner
After Effects
Audition
Google Gemini